sexta-feira, 16 de abril de 2010
Renato Manfredini Júnior nasceu às 4 horas do dia 27 de Março de 1960, no bairro do Humaitá, Rio de Janeiro. Filho de Renato, economista do Banco do Brasil e de Carminha, professora de inglês, Júnior – como era chamado pelo pai - teve uma infância normal, como a de qualquer criança de classe média dos anos 60. Morava na Ilha do Governador, onde brincou de pique, andou de carrinho de rolimã e soltou pipa.
Aos sete anos, Renato e toda a família Manfredini mudaram-se para Nova Iorque, em decorrência de um curso que o pai fora fazer no exterior. Quando regressaram ao Brasil, a família foi morar em Brasília. Aos quinze anos, Renato teve uma rara doença chamada epifisiólise, que ataca os ossos. Durante dois anos, passou por diversos tratamentos e operações, e só voltaria a caminhar aos 17 anos, em 1977. Durante o tempo em que esteve em tratamento, dedicou-se a leitura. Anos depois, o sobrenome artístico “Russo” surgiria em homenagem aos filósofos que leu neste período: Jean-Jacques Rousseau, Bertrand Russell e ao pintor Naîf Henri Rousseau.
Sob a influência do punk, do rock progressivo, como Yes e Genesis, e outros nomes como The Clash, Bob Dylan e até Beach Boys, Renato estava realmente disposto a formar uma banda. E foi dessa mistura de sons que nasceria o Aborto Elétrico, banda formada por Renato (baixo), Fê Lemos (bateria) e André Pretórios (vocal). O Aborto não duraria muito tempo: André foi o primeiro a sair, por causa do alistamento militar. Em seguida, durante uma briga, Fê acertara Renato com uma baqueta.
Com o fim, as canções do Aborto Elétrico foram partilhadas: uma parte ficou com Fê, outra com Renato. O “divórcio musical” deu origem ao primeiro lote de sucessos de duas grandes bandas que viriam a surgir nos anos 80: a Legião Urbana e o Capital Inicial.
O nascimento da Legião Urbana
Com o fim do Aborto Elétrico, Renato passou um tempo se apresentando sozinho, com banquinho, voz e violão. Era o “Trovador Solitário”. Mas a solidão logo teria fim: Com Renato no baixo, e Marcelo Bonfá na bateria, surgia uma nova banda, e integrantes de bandas locais de Brasília eram convidados para assumir os vocais e guitarras - o que não deu muito certo. Logo passariam a ter integrantes fixos, como Ico Ouro Preto, que logo seria substituído por Dado Villa-Lobos. Com Renato no baixo e vocais, Bonfá na bateria e Dado nas guitarras, surgia a Legião Urbana.
Em 1983, outra banda formada em Brasília gravou Química, de Renato, em seu primeiro LP. A banda era Os Paralamas do Sucesso, de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. A gravação abriu caminho para que a Legião gravasse no ano seguinte seu primeiro disco, pela EMI-Odeon, a mesma gravadora dos Paralamas.
Em janeiro de 85 chegava as lojas Legião Urbana, com os sucessos Será, Geração Coca-cola e Soldados. E mais um integrante se incorporava a Legião: Renato Rocha assumia o baixo, para que Renato se dedicasse integralmente à composição, vocais e interesses da banda. Nessa mesma época, Fê Lemos reunia outros companheiros e criava o Capital Inicial, banda que teve início com a outra parte das canções do Aborto Elétrico.
Em março de 1986 a Legião Urbana entrava no estúdio para gravar o álbum Dois, lançado em julho. Com os hits Tempo perdido, Quase sem querer, Eduardo e Mônica, Daniel na cova dos leões e Índios, a Legião chegava à consagração, invadindo as rádios, lotando shows e vendendo discos como nunca.
“Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação”
Os versos de Que país é este, composta por Renato Russo em 1978, permaneciam atuais em dezembro de 1987, época do lançamento do terceiro disco da Legião, Que país é este – 1978/1987, que reunia as músicas do Aborto Elétrico e outras composições da Legião. Infelizmente, não pela obra de Renato Russo e sim pela triste situação de nosso país, o quadro é o mesmo de 78 (ou 87).
Dois anos depois, em novembro de 1989, é lançado As Quatro Estações. A Legião volta a ser um trio, com a saída de Renato Rocha. E mais uma enxurrada de sucessos: Há tempos, Pais e Filhos, Quando o sol bater na janela do teu quarto, Eu era um lobisomem juvenil, Monte Castelo, Meninos e Meninas, Se fiquei esperando meu amor passar e Sete cidades.
Em dezembro de 1991 é lançado o disco V, com os sucessos Teatro dos Vampiros (canção inspirada na novela Vamp, de Antonio Calmon), Vento no Litoral, O mundo anda tão complicado, Sereníssima, etc. Em 1992, a Legião faz um disco duplo, com versões de seus sucessos e outras inéditas na voz de Renato, chamado Música para Acampamentos, lançado em dezembro. Em novembro de 1993, vem O Descobrimento do Brasil, com Perfeição, Vamos fazer um filme, Vinte e nove, Giz, Só por hoje, entre outras canções.
Renato em Vôo solo
Em junho de 1994, Renato lança seu primeiro disco solo: A Stonewall Celebration Concert, em homenagem aos 25 anos do movimento ativista gay nos EUA. É a primeira vez que Renato assume em público sua homossexualidade. Na época, em entrevista ao jornal O DIA, em setembro de 1994, Renato revelou sua vontade de gravar um disco somente com canções da música popular brasileira, mas achava que era necessário um tempo para isso. E disse: “ – Imagina eu, gayzão, cantando Aldir Blanc?” – risos. O álbum foi todo gravado em inglês, com músicas como Cherish, de Madonna, e Cathedral Song, de Tanita Tikaram, que ficou popularíssima no Brasil com a versão gravada por Zélia Duncan.
Em dezembro de 1995, seguindo o mesmo formato de Stonewall, Renato lança o segundo disco solo: Equilibrio Distante, desta vez todo gravado em italiano. O disco era dedicado à sua família. As ilustrações da capa foram feitas por seu filho Giuliano Manfredini, na época com sete anos de idade. Destaque para Strani Amori, La Sollitudine, La Forza Della Vitta e uma versão especialíssima para Como uma onda (zen-surfismo), de Lulu Santos e Nelson Motta, que virou Come Fa Un’ Onda, com arranjos de Wave, de João Gilberto.
A volta (breve) da Legião
No ano seguinte a Legião volta aos estúdios para gravar seu último CD. A tempestade – ou O livro dos dias era sombrio, quase confessional nas letras. Lançado em setembro de 1996, é o único disco que não trazia uma das marcas registradas da Legião Urbana em seus encartes: a frase Urbana Legio Omnia Vincit, que, traduzida do latim para o português significa A Legião Urbana tudo vence. Talvez porque a doença teria vencido Renato, que partiria às 1:15 do dia 11 de outubro de 1996, com broncopneumonia, sepicemia e infecção urinária decorrente do HIV, de que era portador há seis anos. Chegava ao fim uma luta contra a doença, e o fim da Legião Urbana, afinal, quem poderia substituir Renato Russo?
Após a morte de Renato, foram lançados vários discos com sobras de estúdio e registros ao vivo: Uma outra estação (1997), O último solo (1997), Acústico MTV (1999), Como é que se diz eu te amo (2001), Renato Russo Presente (2003) e As quatro estações ao vivo (2004), e várias coletâneas, como Mais do Mesmo (1998) e Bis (2000), que reuniu participações de Renato em outros discos, cantando A cruz e a espada com Paulo Ricardo, de 1996, e A Carta, gravada com Erasmo Carlos no disco Homem de Rua, em 1992.
Uma década depois, os discos da Legião Urbana e de Renato Russo continuam vendendo tanto quanto na época de seus respectivos lançamentos. Prova de que a obra de Renato sobrevive ao tempo, que, apesar de tudo, não foi perdido.
DISCOGRAFIA
"Legião Urbana" (EMI, 1984)
"Dois" (EMI, 1986)
"Que país é este? - 1978/1987" (EMI, 1987)
"As quatro estações" (EMI, 1989)
"V" (EMI, 1991)
"Música para acampamentos" (EMI, 1992)
"O descobrimento do Brasil" (EMI, 1993)
"Renato Russo - The Stonewall Celebration Concert" (EMI, 1994)
"Renato Russo - Equilibrio distante" (EMI, 1995)
"A tempestade - ou o livro dos dias" (EMI, 1996)
"Uma outra estação" (EMI, 1997)
"Renato Russo - O último solo" (EMI, 1998)
"Acústico MTV" (EMI, 1999)
"Como é que se diz eu te amo - ao vivo" (EMI, 2001)
"Renato Russo presente" (EMI, 2003)
"As quatro estações - ao vivo" (EMI, 2004)
"O Trovador Solitário" (Discobertas/Coqueiro Verde, 2008)
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